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Série ii / Número 169 / Volume 47
Julho 2023
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DOI: 10.52590/M3.P706

O Secretário-geral das Nações Unidas frisou que é essencial promover a igualdade de género no mundo científico e tecnológico, “as mulheres e as raparigas pertencem à Ciência”. Durante séculos acreditou-se que o homem e a mulher tinham diferentes capacidades mentais. As mulheres seriam desprovidas de equipamento intelectual apropriado ao estudo das ciências. Discutimos “mente” e “inteligência” do ser humano. Kindra Crick ilustra a nossa interpretação. Marie-Anne Paulze, Caroline Herschel e Marie Curie são “case studies”. Utilizaremos os Prémio Nobel, Prémio Abel e Medalha Fields para mostrar a desigualdade de género. E as mulheres na Ciência, em Portugal? Referimos o primeiro liceu feminino e as primeiras escolas de ensino científico superior; e como o seu ritmo de acesso trouxe um contributo muito positivo para o estatuto social da mulher. Hoje, há mulheres na direção de departamentos e de faculdades, reitoras nas universidades e excelentes investigadoras na chefia de instituições de investigação científica. A título de exemplo, apresentaremos Elvira Fortunato, Maria (Manuel) Mota, Paula Marques Alves, Ana Cannas da Silva, Mónica Bettencourt-Dias, Madalena Alves e Karina B. Xavier, cientistas na linha da frente.


Há muito tempo que os compostos derivados de iminas são descritos como moléculas excecionalmente úteis em química orgânica, sendo maioritariamente reconhecidos como intermediários fundamentais na síntese de heterociclos de nitrogénio, como indoles e azaindoles. De facto, estas estruturas N-heterocíclicas, semelhantes entre si, estão amplamente presentes em compostos biologicamente ativos, sendo por isso considerados estruturas privilegiadas em química medicinal. Desta forma, existe um grande interesse no desenvolvimento de novas metodologias para obter de forma eficiente tanto iminas como as respetivas estruturas heterocíclicas. Recentemente, a síntese de iminas tem sido explorada através do acoplamento oxidativo entre aminas aromáticas e álcoois primários por processos catalisados por metais. Neste trabalho, novos complexos de manganês(I), livres de fosfinas, foram utilizados para permitir a formação de iminas de forma eficiente (até 99% de rendimento). Por fim, foi estabelecida uma via bimetálica, envolvendo catálise de manganês e paládio, para a obtenção de indoles e azaindoles, a partir de materiais de partida simples e comercialmente disponíveis, como aminas aromáticas e álcoois. Este procedimento one-pot, envolvendo três passos reacionais, permitiu a obtenção da estrutura de indole com um rendimento global promissor.


A Sandostatina® foi o primeiro fármaco disponível para o tratamento de doentes com acromegalia, uma doença rara que condiciona em grande parte a vida dos pacientes, chegando a reduzir significativamente a sua esperança média de vida. O seu princípio ativo, o acetato de octreotida, foi descoberto pela primeira vez em 1982 por Bauer e a sua equipa, tendo o fármaco começado a ser comercializado em 1988 após realizados com sucesso todos os estudos de farmacodinâmica, farmacocinética, de toxicidade e clínicos, os quais são abordados neste artigo. Este composto mimetiza o ligando natural responsável pela regulação dos níveis da hormona de crescimento (GH) excretada, contudo apresenta alta especificidade e atividade (ID50 = 125 μg/kg por hora), um período terapêutico maior (t1/2 = 117 min.) e uma potência 70 vezes superior à do ligando.


No presente documento apresenta-se a biblioteca ULYSSES aos químicos portugueses. A ULYSSES é uma biblioteca de métodos semi-empíricos de Química Quântica, desenhada para ser fácil de usar e expandir a outros métodos ou parametrizações. Apesar da sua simplicidade, a biblioteca apresenta elevada eficiência computacional. O desenvolvimento do código teve como foco oferecer aos utilizadores o máximo de liberdade possível, procurando ainda disponibilizar uma experiência simples em detalhes técnicos, tais como a sua instalação. Na versão atualmente publicada, a biblioteca oferece acesso a diversos métodos semi-empíricos com correções para interações de London. A biblioteca tem ainda disponíveis módulos para o cálculo de propriedades termodinâmicas, eletrónicas, otimização de estruturas e de dinâmica molecular. Alguns exemplos de aplicações já publicadas são descritos brevemente, bem como os desenvolvimentos que irão surgir com as próximas versões da biblioteca. Prevê-se que alguns dos algoritmos que serão lançados em breve terão um grande impacto na comunidade de química medicinal, no desenvolvimento de fármacos e na inteligência artificial.